A morte de Balder - Parte I



Balder, filho de Odin e de Frigga, era o mais belo e amado dos deuses. Não havia criatura em todo o mundo, que não o adorasse. Grande parte do seu fascínio estava na alegria que ele irradiava sobre todos os que o cercavam; a própria natureza parecia alegrar-se com a sua chegada e, desta forma, era uma presença sempre bem-vinda onde quer que se fizesse anunciar.

Um dia, entretanto, Balder acordou com uma sombra anuviando o seu olhar. Sua mãe Frigga logo percebeu que algo muito grave o perturbava.

- Balder, querido - disse ela, achegando-se ao filho. - O que você tem, que acordou com um mau aspecto?

- Tive alguns pesadelos - respondeu o jovem deus, com o semblante alterado pela preocupação. - Estes sonhos ruins prognosticavam a minha morte!

Frigga levou logo a má notícia a seu esposo Odin.

- Deve ter sido só um pesadelo - disse o deus, minimizando o problema. -Vamos esperar para ver se ele se repete.

Infelizmente, nas noites seguintes, os mesmos sonhos funestos tornaram a atormentar Balder, de tal forma que Odin se viu obrigado a tomar uma providência.

- Vou até Niflheim, a terra de Hei, para ver se descubro o que esta acontecendo - disse ele a Frigga.

No mesmo dia desceu a toda pressa a Bifrost (a ponte do arco-íris que liga Asgard ao resto do mundo), cavalgando Sleipnir, o veloz cavalo de oito patas, rumando para as escuras e subterrâneas terras de Hel, a deusa da morte. Depois de ter cruzado com Garm, o cão que guarda o portão infernal, ficou frente a frente com a sinistra filha de Loki. Questionada por Odin, a Deusa lhe mostrou o caminho que levava até o túmulo de Angrboda, uma antiga profetisa. Ao chegar à escura região onde dormia a velha sibila, acordou-a com suas invocações.

- Acorde, profetisa! - disse o deus. - Quero saber por que há tantos preparativos em Niflheim, como se estivesse para ocorrer uma grande recepção.

 A profetisa, a princípio, relutou em dizer qualquer coisa, mas Odin, fazendo uso de seus feitiços rúnicos, obrigou-a a falar a verdade.

- O jovem deus... oh, sim, Balder!... entrará na morada de Hei... dentro de muito... muito pouco tempo...! - disse Angrboda, num estado muito próximo do sonambulismo.

- Balder morrerá mesmo? - disse Odin, sem poder acreditar.

- Morto... por Hoder... Sim, Hoder o matará...!

 Hoder era o irmão cego de Balder. Odin, sem querer escutar mais coisa alguma, deu as costas à profetisa e, montado em Sleipnir, retornou à toda pressa para Asgard. Tão logo chegou à morada dos deuses, procurou por sua esposa e lhe contou sobre a má notícia. Porém, preferiu esconder a segunda parte da revelação por achar que a fatalidade ainda poderia ser evitada.

- Não, não! - exclamou a mãe de Balder, recusando-se a aceitar o destino que as Nornas, as fiandeiras do destino, pareciam haver decretado, irrevogavelmente, para o seu filho.

Decidiu, então, tomar as suas providências para impedir que isto acontecesse. No mesmo dia partiu pelo mundo para alcançar de todas as coisas que o compunham a promessa de que jamais fariam mal a Balder. Este foi um longo périplo, que o amor de mãe a fez cumprir com impressionante rapidez e sucesso. Todos os deuses, homens, anões, elfos, duendes - e até os gigantes, inimigos declarados dos deuses prometeram à Deusa que jamais fariam qualquer mal a Balder. Mas isto não foi tudo: até dos seres inferiores da criação - como os animais, os insetos, as plantas e os minerais - Frigga arrancou a promessa de que jamais atentariam contra a vida de seu amado filho. Leão por leão, escorpião por escorpião, folha por folha, pedra por pedra - de um por um destes seres ela obteve, de maneira suavemente persuasiva, a promessa desejada.

Então, quando havia cumprido finalmente a tarefa, Frigga voltou para junto do seu esposo, feliz e aliviada.

- Balder está protegido! -disse ela a Odin, com um sorriso radiante. - Ninguém jamais atentará contra a vida de nosso filho!

Quando a notícia chegou aos ouvidos da corte asgardiana foi grande o júbilo que se ergueu entre os deuses.

- Balder não morrerá! Balder é imortal! - exclamavam as vozes,exultantes.

E, apesar do grande privilégio que isto representava, não se ouviu uma única voz de inveja erguer-se, pois ele era uma criatura amada por todos. No entanto, havia uma voz que estaria disposta a proclamar a sua inveja, não fosse o receio de alguma punição. Esta voz pertencia a Loki, um Deus que não primava exatamente pela virtude ou pela generosidade.

- Então, Balder, o queridinho dos deuses, agora está protegido? - pensou Loki, ao tomar conhecimento do fato. Estava estarrecido com o feito de sua popularidade. - Então, não houve em toda a natureza um único ser que se recusou a aceitar esta imposição arbitrária de jamais atentar contra a vida de Balder? Não, isto não pode ser assim! - exclamou ele, irado. Pensava nisto noite após noite. E, desta forma, passou a ser ele a apresentar um mau aspecto todas as manhãs, quando acordava de seu sono perturbado pela inveja.

- O que tem você, Loki, que anda com esta horrível cara de insone? - disse-lhe, um dia, Balder. Isto foi a gota d'água para que o perverso Deus decidisse tomar uma atitude contra o filho de Odin.

- Deve haver alguma criatura, algum ser, qualquer coisa, que tenha se recusado ao juramento infame! - disse o Deus ao sair para sua maldosa peregrinação. Depois de percorrer boa parte do mundo, Loki sentou-se exausto sobre um grande rochedo para pensar sobre a melhor estratégia a ser adotada. Após muito matutar - pois o perverso Deus tinha ao menos a virtude de saber usar a cabeça (ainda que para maus propósitos) -, decidiu procurar Frigga, mãe de sua vítima, para descobrir, dela própria, se não havia um meio de burlar aquela "conspiração idiota" a favor de Balder. Para tanto, metamorfoseou-se em uma velha e foi até o palácio de Frigga. Lá, encontrou a mãe de Balder a fiar e começou, então, a elogiar o grande prodígio que ela obrara ao obter de toda a natureza uma promessa tão sublime para o seu filho.

- Verdadeiramente espantosa a popularidade de Balder! - disse a velha, fingindo-se feliz com o fato. - Depois, assumindo um ar de curiosidade intensa, perguntou à deusa: - Mas, diga-me, poderosa Frigga: é verdade que todos, absolutamente todos, comprometeram-se a jamais lhe fazer mal?

Frigga, a princípio, afirmou categoricamente que todos assim haviam feito. Mas, diante da insistência da velha, acabou por vacilar por um pequeno instante e isto foi o bastante para incitar a dúvida de Loki.

- Por que vacilou, minha amiga? - disse a velha, com os olhos a brilhar.

- Bem, vou falar um segredo a senhora, já que estamos inteiramente a sós.

- Sim, claro, diga! - falou a velha. - Nada escapará de minha boca!

- Houve, sim, uma pequena e inofensiva criatura à qual não tive a coragem de exigir a promessa, tal a sua fragilidade e doçura!

- Oh, que bela alma! - disse Loki, fingindo-se encantado com a delicadeza de Frigga. - E, que criatura foi esta, encantadora Deusa?

- Um ramo de azevinho - disse a Deusa, bem baixinho.

- Oh, o frágil visco...! - disse a velha, dando um grande sorriso gengival.

- Sabe, achei que seria uma terrível ofensa - e mesmo uma ingratidão criminosa! - imaginar que esta bela plantinha, que costumamos colocar do lado de fora de nossas casas em sinal de hospitalidade, pudesse de alguma forma desejar fazer mal a meu filho. Dispensei, então, a planta da paz deste juramento solene. Acha que fiz bem em prestar-lhe esta homenagem?


- Oh, sem dúvida, magnânima deusa! - disse a velha, abraçando-se à Frigga. - Fez bem, oh!, fez muito bem mesmo.

Loki despediu-se da Deusa e seguiu seu caminho, com a idéia de realizar um concurso em honra ao Deus tão amado: Arremesso ao Balder , foi como batizou o torneio que afirmava inofensivo.

- O deuzinho exibicionista não se furtará a posar de valente!" - pensou Loki, com um sorriso perverso desenhado nos lábios, ao engendrar mais esta perversidade.

6 comentários:

  1. Em uma sociedade onde não existia a definição de bem ou mal, sempre devemos lembrar que Loki não era o mal, nesse caso justificam suas ações por inveja, mas tambémcom Balder sendo mimado e protegido por todos como era, levantaria facilmente qualquer tipo de inveja.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Loki sempre representou, pra mim, a perspicácia, esperteza, instintos e a não vergonha de se sentir o que se sente.
      Acho que Loki é invejoso e vingativo, mas com cérebro. Balder no entanto, para mim é a prova de que inocência demais mata. XP
      Gosto de Loki, sem ele as histórias ficariam chatinhas. X*

      Excluir
  2. Por que você SEMPRE faz isso... ¬¬ Pára na melhor parte....

    Quando vai atualizar???? O_O

    To curtindo a estória mulher!

    =*

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Huhuhuhuhuhu... é para que vc fique com essa sensação de desespero e venha saciar a sua sede na próxima parte. rsrsrsrsrs

      :*

      Excluir