O conto da sereia
Simplesmente o melhor e mais detalhado conto sobre sereias que já encontrei pela web.
Retirei do blog Verbalizada.
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Quem as águas do mar admirava, ainda que com muita atenção, mal conseguia ter ideia do que se preservava em suas profundezas. É que tão ciumento e protetor, o Oceano guardava pra si, em sua imensidão infinita, as sereias, e então o mundo quase pouco ou nada delas podia saber.
As sereias eram mulheres da cintura pra cima, exímias tamanha perfeição, com traços delicados em seus rostos, cabelos tão belos e sedosos quanto fios de seda, de lábios atraentes, olhos claros como a alma dos homens viajantes e narizes simétricos. Seus seios eram vastos e redondos como os das mulheres renascentistas, cobertos pelas conchas mais brilhantes numa tentativa pretensiosa de fingir o pudor. Seus perfumes instigavam, dentro de cada um que o sentia, toda a essência pura da tão nobre felicidade, e suas vozes, que eram sempre flagradas sussurrando tênues canções, eram também a doçura, a paz, a calmaria. No lugar de pernas e pés, uma longa cauda se mostrava cheiíssima de escamas frágeis e delicadas, e em seus pescoços uns poucos e invisíveis pelos existiam para arrepiar-se nas noites frias. Tão incríveis seres possuíam a capacidade de seduzir todos aqueles que pousassem os olhos sobre seu semblante ou que ouvissem, mesmo por poucos segundos, seu canto. Até o Oceano - grande rei do mundo, pai de milhões de vidas marinhas e guardião das caravanas e das expedições humanas -, até ele se rendia à inevitável perda de controle, de identidade e de vontade própria quando uma sereia desatava a própria voz ou penteava os longos cabelos. E definitivamente delas o mundo se tornava, quando à superfície uma ou duas subiam e sobre o Céu lançavam seu enlevo.
Pois todos a elas obedeciam, mesmo sem saberem. Se a água congelante se tornasse, as nuvens do Céu se dissipavam e o Sol aquecia os corpos das sereias. Se uma baleia fizesse menção de abocanhá-las, em poucos segundos se contorcia tamanha vergonha e morria de tanto desgosto. Se a chuva incomodasse, rapidamente parava de cair, e elas voltavam a se preocupar com outras regalias. E quando tinham fome, tão fácil era se saciarem! Pois os homens sempre adoravam aventurar-se nas águas dos mares em barcos que, por mais altos que fossem, nunca eram o suficiente para afastá-los das sereias. Eram tolos, fracos e as poucas histórias que alertavam sobre a existência das sereias e que podia guardá-los já haviam se tornado mitos há tanto tempo que ninguém se preocupava em lembrar. Pois os graciosos monstros sentiam quando na superfície se encontrava um barco e então nadavam até encontrá-lo. Observavam, discretamente, e lentamente se aproximavam. Quase nada se esforçavam; apenas começavam a cantar, nadavam caprichosamente e os olhavam de soslaio vez ou outra, pois isso era o suficiente. Completamente inebriados, os homens desciam do convés e se aproximavam dentro de barcos menores, alguns simplesmente pulavam na água e nadavam apressadamente, salivando de tão ansiosos. Quando se aproximavam, não temiam, mas mais encantados ficavam, pois a verdade é que nunca no mundo existiu ou vai existir algo tão bonito quanto às sereias, e os homens, escravos da beleza, caiam na armadilha num piscar de olhos. Pacientes, elas cantavam um pouco mais e apenas quando eles tentavam beijá-las nos lábios ou tocar-lhes a face, os abraçavam com força e os levavam para o fundo do mar, onde os pobres humanos sentiam os pulmões se enchendo de água e morriam, lenta e vaidosamente. Lá no fundo do oceano, as sereias desabotoavam suas camisas com os dedos esbeltos e provavam da sua carne, saboreando – ainda muito belamente - todos os corações sangrentos. Logo depois limpavam os beições e esperavam por um pouco mais.
A vida das sereias era vazia, mas não era tediosa. Elas tinham muito para fazer. Gostavam de praticar suas habilidades tocando instrumentos, de nadar por todos os lados livremente, de procurar por conchas para tampar os seios ou enfeitar os cabelos com pérolas. Divertiam-se criando arranjos com os corais, se misturando aos peixes, tomando banhos de sol na superfície, mas seu divertimento era seco, era frio. Nunca no mundo se ouvira a gargalhada de uma sereia, nunca ninguém pôde vê-las chorar.
Mas uma manhã de outono chegou, e o Céu se vestia num lindo tom de azul, e as águas do mar estavam serenas. Havia doze dias que nenhum homem aparecera e as sereias se separaram para procurar por cadáveres no mar. Não estavam famintas, imagine; as sereias só sentiam fome quando sem carne ficavam por meses. Mas não tinham nada melhor para fazer e queriam se entreter. Apenas Sayuri, uma das sereias mais jovens, decidiu não seguir as outras, pois um pouco de harpa almejava praticar, e foi enquanto estava sozinha a tocar que percebeu a aproximação de um pequeno barco. Nadou imediatamente até a superfície e, ao descobrir de água os olhos, viu que dentro do minúsculo barco havia um homem só. Sua pele era escura e os olhos, penetrantes. Seu corpo assumia uma forma magistral, com braços musculosos e tronco alongado. Em sua face, uma expressão cansada. Projetava uma pequena rede para fora, provavelmente a fim de capturar alguns peixes e afogar a necessidade de comer, mas não obtinha muito sucesso. Parecia completamente perdido, tão longe da costa, trajando apenas uma calça comprida feita de pano. Sayuri não ousaria hesitar; aproximaria do rapaz, se debruçaria sobre a casca de madeira, brincaria com suas madeixas ou cantaria por alguns segundos e tão logo aquele homem seria inteiramente seu, seu corpo e sua alma. Mas ela não conseguia, estava petrificada e sentia toda a frieza do seu coração de sereia indo embora, dando lugar a um calor irreconhecível. Parecia que sobre ela ele havia lançado seu encantamento de moço, mas não podia ser. Observou-o por uma hora, até que ele, entorpecido pelo cansaço, deitou-se e adormeceu. Logo Sayuri apoiou-se no pequeno barco e fitou o rosto do rapaz. Sentiu vontade de cantar para ele, não para devorá-lo, mas para deliciar ainda mais o sono no qual ele estava imerso. Assim ficou, até perder a noção do tempo, até o Sol se despedir e se pôr, impiedoso. E quando o rapaz abriu os olhos e a encarou, não sei dizer qual dos dois tomou o maior susto, apenas posso revelar que nenhum deles ousou se mexer. O homem, já tão fraco, pensou ter uma alucinação, pois não era possível que um ser tão bonito existisse num mundo daqueles. Esticou seus dedos, lentamente, com a respiração arfada, até tocar em uma pele úmida e mergulhou no choque, ao que Sayuri descolou os lábios e adocicou o mundo com seu canto. Venha, navegante, deixe-me em teu colo repousar/ Te prometo que esse mundo tão sórdido não vos vai afastar/ Que em tua pele colorida os meus lábios possa pôr/ Venha, meu anjo, em minha boca mergulhar/ Deixe-me, navegante, me inebriar com o teu amor.
E ao ouvir música assim bem cantada, o homem deixou de ser homem, deixou de ter fome, deixou de ter consciência para submeter-se as vontades da sereia que o seduzia. E Sayuri muito sofreu, pois no lugar dos olhos penetrantes, viu um reflexo de si mesma, e no lugar das feições de rapaz viu um rosto mascarado. Soltou-se do barco e mergulhou profundamente, nadou cheia de raiva e pensou que seu corpo estivesse queimando, tamanho calor a preenchia agora que se provara diferente das outras sereias. Não pensou em nada além do homem negro que lá em cima se encontrava; pegou a concha que usava para cobrir os seios e, com a ponta afiada, aranhou cruelmente a própria face, livrando de si mesma a beleza que a tornava exuberante. Viu na água o sangue que se soltava, sentiu o gosto da própria feiura e gritou praquele pedaço de mundo toda a sua liberdade. Tão logo quebrou os espelhos e os pentes e desmanchou as flores que usava para caprichar os penteados, subiu até a superfície pare encontrar o homem e voltou a aproximar-se dele. Fitou-o com intensidade, tirou do rosto os cabelos avermelhados e esperou que ele falasse. Não conseguiu desvendar a expressão do homem, não conseguiu se conter tamanha ansiedade, e disse “Chamo-me Sayuri”. Minutos depois, ele perguntou:“O que é isso no seu rosto?”. “São arranhões, que representam a minha liberdade”, ela respondeu. “E tu, o que és?”. “Era uma sereia, agora sou moça, humana feito você”. “Mas tu não és sereia, tampouco és humana… Pareces um monstro!”
E feita tal declaração, Sayuri encheu-se de todo o sentimento, que a dominou com força e audácia quase a fazendo chorar. Uma lágrima muito perto chegou de se formar nos olhos inchados da sereia! Mas antes que tal momento de fraqueza pudesse se fazer existir, ela pulou no barco, agarrou o rapaz com força esmagadora e o levou para as profundezas do mar…
Pois nunca um coração humano tivera gosto tão saboroso.
*_* estou com os olhinhos brilhando até agora, após ler esse conto perfeito e belissimo.
Sol, Lua e Tália - Parte Final
Sol, Lua e Tália - Parte I
Espero que apreciem!
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Certa vez havia um grande Senhor que foi abençoado com o nascimento de uma filha de enorme beleza, a quem ele chamou de Tália. Em homenagem a filha querida, organizou uma enorme festa e mandou chamar os homens mais sábios do reino para prever o que o destino tinha reservado para sua tão amada criança. Os sábios consultaram juntos a sorte e lançaram seu horóscopo, mas, para o horror do pobre pai, a profecia dizia que Tália seria posta em perigo caso tocasse um fio de linho sequer. O Senhor, muito assustado, decretou que nenhum linho ou cânhamo, ou qualquer coisa do tipo, poderiam mais ser trazidas para aquela casa, pensou que fazendo assim ele poderia proteger a filha de seu destino.
Um dia, quando Tália já havia se tornado uma bela jovem, estava olhando pela janela quando viu uma velha girando a roca. Era tão curioso aquilo que a senhora fazia, nunca tinha visto aquilo. Ficou tão encantada que chamou a velhinha para deixá-la vê-lo. A menina implorou tanto para esticar o linho que a senhorinha com pena deixou. Mas assim que o fez, uma farpa de linho fincou sob sua unha e ali mesmo ela caiu. A mulher assustada, ao ver a menina caída, correu para fora da casa e nunca mais voltou. Quando o pai ouviu falar sobre o infeliz evento, ficou arrasado e chorou tanto que de pranto se esvaziou. Em tamanha tristeza não teve coragem de colocar sua filha abaixo da terra tão fria, ao invés disso, com as roupas mais belas e bem feitas vestiu Tália e a colocou em cima de um estrado coberto de brocado em um dos quartos e, em seguida abandou a propriedade para sempre.
Depois de um longo tempo, um rei de terras distantes decidiu caçar por aquelas bandas. Distraído, procurando o que caçar, deixou seu falcão fugir. O animal voou em volta de uma grande casa e entrou pela janela. Como demorava muito para voltar o jovem soberano então enviou um servo para bater à porta da casa, com a intenção de pedir o retorno da ave. Não houve resposta. Bateram na porta mais uma vez, chamaram alto e nada de ninguém atender. Como o pássaro não saia de jeito nenhum, o rei disse aos seus servos que ele mesmo iria escalar o muro e subir pela janela, a fim de recuperar o pássaro. Então ele subiu e vagou por parte da casa, mas não encontrou nada além de móveis empoeirados. Foi assim de sala em sala, de quarto a quarto, até que chegou a uma grande sala, onde encontrou uma menina encantadora, que parecia estar dormindo. Ele chamou por ela inumeras vezes, mas a bela não acordava. Entrou então na sala e olhou para ela de perto. Era tão incrivelmente linda que ele não podia deixar de desejá-la, e em seu íntimo começou a crescer uma luxúria quente. Foi assim, cheio da loucura da paixão, que a tomou em seus braços e a levou para cama, onde fez amor com ela. Depois de apagar a fúria de seu desejo, deixou a moça na cama, saiu de lá e voltou para seu reino, onde não pensou mais sobre o ocorrido.
Tália, que realmente apenas dormia inconsciente, tinha engravidado, e nove meses depois deu luz a dois lindos gêmeos. Amavelmente as fadas fizeram seu parto, e colocaram os bebês para mamar no peito da mãe. Assim o tempo foi passando e um dia, sem que as fadas vissem, uma das crianças, não sendo capaz de encontrar o seio, começou a mamar em seu dedo. Ele chupou com tanta força que tirou a farpa de lindo fincada sob sua unha e Tália acordou, como se de um longo sono. Quando ela viu os bebês, não sabia o que tinha acontecido ou como havia chegado ali, mas abraçou-os com amor, amamentou até que eles ficaram satisfeitos e os momeou Sol e Lua. Gentilmente as fadas continuaram a assisti-los, fornecendo-lhes alimentos e bebidas, que apareciam como se entregues por agentes invisíveis.
A Arte de Resolver Conflitos
Ainda sou fraca, mas estou aprendendo.
Ótima história que me fez refletir muito sobre algumas situações em minha vida.
Espero que apreciem e reflitam.
O jovem olhava, distraído, pela janela, a monotonia das casas sempre iguais e dos arbustos cobertos de poeira. Chegando a uma estação as portas se abriram e, de repente, a quietude foi rompida por um homem que entrou cambaleando, gritando com violência palavras sem nexo. Era um homem forte, com roupas de operário. Estava bêbado e imundo. Aos berros, empurrou uma mulher que carregava um bebê ao colo e ela caiu sobre uma poltrona vazia. Felizmente nada aconteceu ao bebê. O operário furioso agarrou a haste de metal no meio do vagão e tentou arrancá-la. Dava para ver que uma das suas mãos estava ferida e sangrava.
Os Presentes do Rei - Parte Final

Muito embora o rei desempenhasse bem o papel de homem ambicioso, era péssimo no papel de homem malvado. Durante toda a noite, não conseguiu dormir, pensando na pobre mulher, acorrentada.
– Oh, meu Deus, o que é que eu fui fazer? – lamentava-se.
Acordou os soldados e lá marcharam todos, de pijamas, até à gruta para a salvarem. Mas, quando chegaram, o rei encontrou a costureira e o urso a tomarem um pequeno almoço de frutos silvestres e mel. Vendo aquela cena, o rei esqueceu por completo a pena que sentira da costureira e voltou a ficar zangado. Ordenou, então, aos construtores reais de ilhas que construíssem uma ilha tão pequena que a costureira só lá pudesse ficar nas pontas dos pés. Novamente o rei lhe pediu uma manta e novamente ela recusou.
– Muito bem – respondeu o rei. – Esta noite, quando estiveres demasiado cansada para te manteres em pé e quiseres deitar-te para dormir, afogar-te-ás.
E o rei deixou-a só na minúscula ilhota.
Pouco depois de ele partir, a costureira viu um pardal atravessar o grande lago. Soprava um vento forte e violento e o pobre pássaro não parecia capaz de chegar a terra. A costureira chamou-o e ele pousou no ombro dela para descansar. Como o pobre e cansado pardal estava a tremer, a senhora fez-lhe uma capa de um pedaço de tecido do seu colete púrpura. Quando a ave se sentiu mais quente e o vento parou de soprar, levantou vôo de novo, grato pelo o que a costureira lhe tinha feito. Dali a pouco, o céu escureceu devido a uma enorme nuvem de pardais. Com as asas sempre a bater, milhares deles desceram, pegaram na mulher com os seus pequeninos bicos, e levaram-na em segurança para terra.
Novamente nessa noite, o rei não conseguia dormir a pensar na senhora, sozinha na ilha.
– Oh, meu Deus, o que é que eu fui fazer? – lamentava-se.
Voltou a acordar os soldados que estavam a dormir e lá marcharam, de pijamas, até o lago, para libertarem a costureira. Mas, quando chegaram, ela estava sentada no ramo de uma árvore a coser minúsculas capas cor de púrpura para todos os pardais.
– Desisto! – gritou o rei. – O que tenho de fazer para me dares uma manta?
– Como já te disse – respondeu ela – oferece tudo o que tens e eu faço-te uma manta. E, por cada prenda que dês, acrescento mais um quadrado à tua manta.
– Não consigo fazer isso! – gritou o rei. – Eu adoro todas as minhas lindas e maravilhosas coisas.
– Mas, se elas não te fazem feliz – retorquiu a costureira – para que servem?
– Lá isso é verdade – suspirou o rei.
E então ele pensou muito, muito no que ela dissera. Pensou durante tanto tempo, que as semanas se sucederam umas às outras.
– Pronto, está bem – disse entredentes. – Se tenho de me libertar dos meus tesouros, então que seja!
Dito isso, o rei regressou ao castelo e procurou, de uma ponta a outra, qualquer coisa da qual conseguisse abdicar. De semblante franzido, lá acabou por encontrar um simples berlinde. Acontece que, ao receber o presente, o rapazinho retribuiu o gesto com um sorriso tão radiante, que o rei regressou ao castelo para ir buscar mais coisas. Por fim, pegou num amontoado de casacos aveludados e foi distribuí-los às pessoas vestidas de trapos. Ficaram todas muito contentes, mas, ainda assim, o rei não sorria.
Em seguida, foi buscar uma centena de gatos siameses azuis, que dançavam valsas, e uma dezena de peixes transparentes como vidro. Depois, deu ordem para que trouxessem para fora o carrocel com os cavalos verdadeiros. As crianças gritaram de entusiasmo e puseram-se a dançar em redor dele. O rei olhou à sua volta e viu as danças, a felicidade e a alegria que os seus presentes tinham trazido. Uma criança pegou-lhe na mão e puxou-o para dançar. O rei agora sorria e até soltava gargalhadas.
– Como é isto possível? – exclamou. – Como é possível eu sentir-me tão feliz por dar as minhas coisas? Tirem tudo cá para fora! Tirem tudo imediatamente!
Nesse ínterim, a costureira manteve a sua palavra e começou a fazer uma manta especial para o rei. Por cada presente que ele dava, ela acrescentava outro quadrado à manta.
O rei continuou a dar e dar. Quando, por fim, não havia mais ninguém que não tivesse recebido alguma coisa, o rei decidiu ir pelo mundo e procurar outras pessoas que precisassem das suas prendas.
Antes de partir, no entanto, o rei prometeu à costureira que lhe enviaria um pardal todas as vezes que desse alguma coisa. De manhã, à tarde e à noite, as carroças partiam da cidade, cada uma delas carregada até em cima com todos os objetos maravilhosos do rei. E durante anos e anos, os pardais mensageiros foram voando até ao peitoril da janela da costureira, à medida que ele ia esvaziando lentamente os seus carros, por onde quer que passasse, e trocava os seus tesouros por sorrisos.
A costureira trabalhava sem parar e, pedaço a pedaço, a manta do rei foi crescendo, cada vez maior e mais bonita.
Por fim, certo dia, um pardal cansado entrou-lhe pela janela e pousou na agulha. A costureira compreendeu imediatamente que este era o último mensageiro. Deu o último ponto na manta e desceu a montanha em busca do rei. Após uma longa busca, encontrou-o finalmente. As suas vestes reais estavam agora em farrapos e os dedos dos pés espreitavam-lhe das botas. Os olhos brilhavam de alegria e o riso era maravilhoso e sonoro. A costureira retirou do saco a manta e desdobrou-a. Era de tal forma bela, que borboletas e colibris esvoaçavam à sua volta. Ergueu-se nas pontas dos pés e pô-la à volta do rei.
– O que é isto? – exclamou ele.
– Prometi-lhe há muito tempo – disse ela – que quando fosses pobre, te daria uma manta.
O riso radiante do rei fez cair maçãs e levou as flores a voltarem-se para ele.
– Mas eu não sou pobre – disse. – Posso parecer pobre mas, na verdade, o meu coração está cheio a mais não poder - cheio com as recordações de toda a alegria que dei e recebi. Agora sou o homem mais rico.
– Mesmo assim, fiz esta manta só para ti – disse a costureira.
– Obrigado – respondeu o rei. – Mas só fico com ela se aceitares uma prenda minha. Há um último tesouro que ainda não dei. Guardei-o todos estes anos só para ti.
O rei retirou o próprio trono do carro velho e frágil.
– É mesmo muito confortável – disse o rei. – Ideal para quem passa longos dias a coser.
A partir desse dia, o rei voltou muitas vezes à casa da costureira de colchas, que ficava bem lá em cima, perto das nuvens. Durante o dia, a costureira fazia lindas colchas que não vendia e, à noite, o rei levava-as para a cidade. Procurava, então, os pobres e infelizes, pois nunca se sentia tão feliz como quando dava alguma coisa a alguém.
Os Presentes do Rei - Parte I

Era uma vez, uma costureira de colchas que vivia numa casa velhinha, nas montanhas de bruma azulada. Até o mais idoso dos tetravôs não se lembrava de um tempo em que ela não estivesse lá em cima a coser, dia após dia.
Aqui e ali, e onde quer que o sol aquecesse a terra, dizia-se que ela fazia as colchas mais belas que um dia se tenha visto. Os azuis pareciam vir do mais profundo do oceano; os brancos, das neves mais boreais; os verdes e os púrpuras, das abundantes flores silvestres; os vermelhos, os cor-de-rosa e os cor-de-laranja, do mais maravilhoso dos pores-do-sol. Algumas pessoas diziam que os seus dedos eram mágicos, outras murmuravam que as suas agulhas e tecidos eram dádivas do povo das fadas. Diziam ainda, que as colchas tinham caído de anjos que por ali passavam.
Muita gente subia a montanha, com os bolsos a abarrotar de ouro, na esperança de comprar uma daquelas maravilhosas colchas. No entanto, a costureira não as vendia:
– Dou as minhas colchas aos que são pobres ou não têm casa – dizia a todos os que lhe batiam à porta. – Não são para os ricos.
Nas noites mais frias e escuras, a costureira descia até a cidade, que ficava no sopé da montanha, e percorria as ruas calcetadas até encontrar alguém a dormir ao relento. Então, tirava do saco uma manta novinha, enrolava-a nos ombros dos que tremiam de frio, aconchegava-os bem, e afastava-se depois nas pontas dos pés. No dia seguinte, depois de beber uma chávena fumegante de chá de amoras, começava uma nova manta.
Por esta altura, vivia também um rei, senhor de muito poder e ambição, que, mais do que tudo, gostava de receber presentes. As milhares e milhares de lindíssimas coisas que recebia pelo Natal e pelo seu aniversário nunca lhe bastavam. Proclamou, então, uma lei que dizia que o rei passaria a festejar o seu dia de aniversário duas vezes por ano. Quando isto também deixou de o satisfazer, deu ordens aos seus soldados para procurarem pelo reino as poucas pessoas que ainda não lhe tinham dado presente algum. No decurso dos anos, o rei foi ficando com quase todas as coisas mais bonitas do mundo. Os seus inúmeros bens estavam empilhados por todo o castelo. Em gavetas ou prateleiras, em caixas e arcas, em armários e sacos.
Coisas que brilhavam, cintilavam e tremeluziam.
Coisas extravagantes e práticas.
Coisas misteriosas e mágicas.
Eram tantas, que o rei tinha uma lista de tudo o que possuía.
Mas, apesar de ser dono de todos estes tesouros maravilhosos, o rei não sorria. Não era nada feliz:
– Deve haver, em algum lugar, algo de bonito que me faça sorrir novamente – ouvia-se o rei dizer muitas vezes. – E hei-de tê-lo.
Um dia, um soldado entrou precipitadamente no castelo com a notícia de uma mágica costureira de colchas que vivia nas montanhas. O rei bateu com o pé no chão:
– E por que razão essa pessoa nunca me deu nenhuma das suas colchas de presente? – perguntou ele.
– Ela só as faz para os pobres, Vossa Majestade – respondeu o soldado. – E não as vende por dinheiro algum.
– Isso é o que vamos ver! – bradou o rei. – Tragam-me um cavalo e mil soldados.
E assim, partiu à procura da costureira de colchas.
Quando chegaram à casa dela, esta limitou-se a rir:
– As minhas colchas são para os pobres e necessitados e vê-se facilmente que não és nem uma coisa nem outra.
– Eu quero uma dessas colchas – exigiu o rei. – Talvez seja o que finalmente me fará feliz.
A mulher pensou por um momento.
– Oferece tudo o que tens – disse – e então far-te-ei uma manta. Por cada coisa que deres, acrescento um quadrado à manta. Quando tiveres dado todas as tuas coisas, a tua manta estará terminada.
– Dar todos os meus maravilhosos tesouros? – gritou o rei. – Eu não dou, eu recebo!
E, dito isto, deu ordem aos soldados para se apoderarem da linda manta de estrelas da costureira. Mas, quando se precipitaram sobre ela, a mulher lançou a manta pela janela e uma forte rajada de vento a levou. O rei ficou muito zangado e levou a costureira montanha abaixo, atravessando a cidade e subindo outra montanha. Lá em cima, seus ferreiros reais fizeram uma grossa pulseira de ferro e, então, a costureira foi acorrentada em uma gruta onde um urso dormia. O rei pediu-lhe novamente uma manta, e uma vez mais ela recusou.
– Muito bem, então – respondeu o rei. – Vou te deixar aqui. Quando o urso acordar, tenho certeza de que vai fazer de ti um ótimo pequeno almoço.
Quando, algum tempo mais tarde, o urso abriu os olhos e viu a costureira na gruta, equilibrou-se nas fortes pernas traseiras e soltou um rugido que sacudiu os ossos da mulher. A costureira ergueu os olhos para o urso e abanou tristemente a cabeça.
– Não admira que sejas tão resmungão – disse. – Para além de rochas, não tens nada onde possas, à noite, descansar a cabeça. Arranja-me um braçado de agulhas de pinheiro e, com o meu xale, far-te-ei uma almofada grande e fofa. E foi isso que fez. Nunca ninguém fora antes tão amável para com o urso, que partiu a pulseira de ferro da mulher e pediu que lhe fizesse companhia durante a noite.
Continua...
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Essa e as outras estórias foram todas coletadas de diversas fontes, a última foi encontrada enquanto eu navegava pela web :)
Quem tiver mais alguma pergunta, levante a mão... :P

"Egoísmo é o hábito ou a atitude de uma pessoa colocar seus interesses, opiniões, desejos, necessidades em primeiro lugar, em detrimento (ou não) do ambiente e das demais pessoas com que se relaciona."
(Wikipédia)"
Havia uma garota cega, que se odiava pelo fato de não conseguir ver! Como um animal selvagem ela afastava a todos de si, menos seu namorado.
Ele era muio gentil com ela, e descrevia, com grande prazer, a ela todas as belezas do nosso mundo. A auxiliava em tudo, tudo mesmo, e estava sempre por perto.
Um dia enquanto estavam passeando ela suspirou e disse:
- Se pudesse ver o mundo, a primeira coisa que eu faria, seria me casar com você…
Como num milagre, em um dia de muita sorte, alguém doou um par de olhos a ela. Tão grande era sua felicidade!!!
Assim que foi possivel, saiu a procura de seu namorado. Estava louca para conhece-lo. Avistando ele ao longe, sentado de costas num banco da praça, saiu correndo entusiasmada para ve-lo. Quando ela se aproximou, ele lhe perguntou:
- Agora que você pode ver você se casará comigo???
A garota estava chocada. Só agora ela percebeu que seu namorado era cego!
Ela disse:
- Eu sinto muito, mas não posso me casar com você, porque você é cego! Eu nunca imaginei isso... nossa vida seria complicada, difícil… pra mim e para você.
O namorado nada fez, apenas virou as costas e foi andando, cabisbaixo.
Então se virou para trás e disse:
- Por favor, apenas cuide bem de MEUS OLHOS!
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O egoísmo é a raiz de todo o mal.