As Cataratas do Iguaçu.


Há muitos anos atrás, quando o Rio Iguaçu corria livre, sem corredeiras e nem cataratas, viviam as suas margens a tribo dos Caingangues. A terra, que não tinha fronteiras, como hoje a conhecemos, acolhia a tribo e o rio, que tanto amavam e respeitavam, lhes oferecia o sustento.

Os Caingangues serviam com temor ao deus Mboi – gigantesca serpente que habitava as profundezas o rio Iguaçu. O deus Mboi, para abençoá-los, exigia que lhe entregassem as indiazinhas mais bonitas da aldeia. Numa cerimônia muito triste, as índias ornamentadas com flores, como noivas, despediam-se de suas famílias e, depois, eram levadas de canoa até o meio do rio; ali, saltavam para as águas escuras e passavam o resto de suas vidas servindo a Mboi.

Os anos passavam e nada mudava. Certa vez, uma velha índia pariu uma filha às margens do Iguaçu. Naipi cresceu para tornar-se a mais bela jovem que já fora vista pelos olhos dos Caingangues. Seus olhos possuíam as nuances das Grandes Águas quando iluminadas pela luz do sol ou da lua. Sua formosura era tanta que, quando ela se mirava no rio, as águas paravam para admirá-la.

Um dia, quando ela se banhava no rio, Mboi a viu e seu coração estremeceu: aquela era a mais linda de todas as mulheres! Imediatamente, ordenou que a entregassem a ele.

Que pena! Todos na aldeia ficaram angustiados, mas não havia outro jeito; seria necessário sacrificar a jovem. Naipi estava prometida, em seu coração, para um jovem guerreiro, Tarobá. O sofrimento por saber da iminente separação os deixou em profunda agonia porque Naipi não ousava pedir que a tribo desobedecesse ao deus, por medo de que ele os castigasse a todos. Naipi e Tarobá decidiram, então, atrair para si mesmos a ira de Mboi e resolveram fugir, esperando que o amor que sentiam um pelo outro fosse maior que o poder de Mboi.

Era tempo das cheias e a única rota de fuga possível era justamente pelo domínio do deus-serpente: o rio Iguaçu. O monstro percebeu a fuga e enfureceu-se muito, perseguindo os dois jovens apaixonados. Apesar de ser grande e poderoso, de repente, Mboi viu que Tarobá e Naipi conseguiriam escapar em direção ao rio Paraná. Assim, num esforço supremo, ele ergueu seu imenso corpo, produzindo um som ensurdecedor pelo deslocamento das águas; em seguida, deixou-se cair com estrondo, criando uma enorme fenda no rio Iguaçu que, devido ao impacto, teve sua extensão toda fendida, em abismais catadupas.

Surgiram, assim, as esplêndidas Cataratas do Iguaçu, cuja beleza pungente só pode ser comparada à formosura da face de Naipi e cuja força só se mede pelo amor dos dois jovens.
A canoa que os levava foi tragada pelas águas e desapareceu.

Como castigo, Naipi foi transformada em uma das grandes rochas centrais das Cataratas, perpetuamente fustigada pelas águas revoltas; e Tarobá foi convertido em uma palmeira situada à beira de um abismo, inclinada sobre a garganta do rio. Um podia ver o outro, mas jamais poderiam se tocar novamente.

Dizem que Mboi está lá até hoje, vigiando os dois apaixonados, escondido debaixo dessa palmeira, onde se encontra a entrada de uma gruta sob a Garganta do Diabo.

Fui ao moinho
moí a farinha
quem quiser que conte a sua
pois eu já contei a minha..

Um comentário:

  1. Quando eu era criança eu tinha um livro com essa história, eu o encontrei no ano passado e está guardado lá. A história é a mesma. Linda e triste!!
    Muito legal ler uma que eu conheço!!!! XD~

    Beijinhos!

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