Os Presentes do Rei - Parte Final



Muito embora o rei desempenhasse bem o papel de homem ambicioso, era péssimo no papel de homem malvado. Durante toda a noite, não conseguiu dormir, pensando na pobre mulher, acorrentada.
– Oh, meu Deus, o que é que eu fui fazer? – lamentava-se.
Acordou os soldados e lá marcharam todos, de pijamas, até à gruta para a salvarem. Mas, quando chegaram, o rei encontrou a costureira e o urso a tomarem um pequeno almoço de frutos silvestres e mel. Vendo aquela cena, o rei esqueceu por completo a pena que sentira da costureira e voltou a ficar zangado. Ordenou, então, aos construtores reais de ilhas que construíssem uma ilha tão pequena que a costureira só lá pudesse ficar nas pontas dos pés. Novamente o rei lhe pediu uma manta e novamente ela recusou.
– Muito bem – respondeu o rei. – Esta noite, quando estiveres demasiado cansada para te manteres em pé e quiseres deitar-te para dormir, afogar-te-ás.
E o rei deixou-a só na minúscula ilhota.

Pouco depois de ele partir, a costureira viu um pardal atravessar o grande lago. Soprava um vento forte e violento e o pobre pássaro não parecia capaz de chegar a terra. A costureira chamou-o e ele pousou no ombro dela para descansar. Como o pobre e cansado pardal estava a tremer, a senhora fez-lhe uma capa de um pedaço de tecido do seu colete púrpura. Quando a ave se sentiu mais quente e o vento parou de soprar, levantou vôo de novo, grato pelo o que a costureira lhe tinha feito. Dali a pouco, o céu escureceu devido a uma enorme nuvem de pardais. Com as asas sempre a bater, milhares deles desceram, pegaram na mulher com os seus pequeninos bicos, e levaram-na em segurança para terra.

Novamente nessa noite, o rei não conseguia dormir a pensar na senhora, sozinha na ilha.
– Oh, meu Deus, o que é que eu fui fazer? – lamentava-se.
Voltou a acordar os soldados que estavam a dormir e lá marcharam, de pijamas, até o lago, para libertarem a costureira. Mas, quando chegaram, ela estava sentada no ramo de uma árvore a coser minúsculas capas cor de púrpura para todos os pardais.
– Desisto! – gritou o rei. – O que tenho de fazer para me dares uma manta?
– Como já te disse – respondeu ela – oferece tudo o que tens e eu faço-te uma manta. E, por cada prenda que dês, acrescento mais um quadrado à tua manta.
– Não consigo fazer isso! – gritou o rei. – Eu adoro todas as minhas lindas e maravilhosas coisas.
– Mas, se elas não te fazem feliz – retorquiu a costureira – para que servem?
– Lá isso é verdade – suspirou o rei.

E então ele pensou muito, muito no que ela dissera. Pensou durante tanto tempo, que as semanas se sucederam umas às outras.
– Pronto, está bem – disse entredentes. – Se tenho de me libertar dos meus tesouros, então que seja!
Dito isso, o rei regressou ao castelo e procurou, de uma ponta a outra, qualquer coisa da qual conseguisse abdicar. De semblante franzido, lá acabou por encontrar um simples berlinde. Acontece que, ao receber o presente, o rapazinho retribuiu o gesto com um sorriso tão radiante, que o rei regressou ao castelo para ir buscar mais coisas. Por fim, pegou num amontoado de casacos aveludados e foi distribuí-los às pessoas vestidas de trapos. Ficaram todas muito contentes, mas, ainda assim, o rei não sorria.

Em seguida, foi buscar uma centena de gatos siameses azuis, que dançavam valsas, e uma dezena de peixes transparentes como vidro. Depois, deu ordem para que trouxessem para fora o carrocel com os cavalos verdadeiros. As crianças gritaram de entusiasmo e puseram-se a dançar em redor dele. O rei olhou à sua volta e viu as danças, a felicidade e a alegria que os seus presentes tinham trazido. Uma criança pegou-lhe na mão e puxou-o para dançar. O rei agora sorria e até soltava gargalhadas.
– Como é isto possível? – exclamou. – Como é possível eu sentir-me tão feliz por dar as minhas coisas? Tirem tudo cá para fora! Tirem tudo imediatamente!

Nesse ínterim, a costureira manteve a sua palavra e começou a fazer uma manta especial para o rei. Por cada presente que ele dava, ela acrescentava outro quadrado à manta.
O rei continuou a dar e dar. Quando, por fim, não havia mais ninguém que não tivesse recebido alguma coisa, o rei decidiu ir pelo mundo e procurar outras pessoas que precisassem das suas prendas.
Antes de partir, no entanto, o rei prometeu à costureira que lhe enviaria um pardal todas as vezes que desse alguma coisa. De manhã, à tarde e à noite, as carroças partiam da cidade, cada uma delas carregada até em cima com todos os objetos maravilhosos do rei. E durante anos e anos, os pardais mensageiros foram voando até ao peitoril da janela da costureira, à medida que ele ia esvaziando lentamente os seus carros, por onde quer que passasse, e trocava os seus tesouros por sorrisos.

A costureira trabalhava sem parar e, pedaço a pedaço, a manta do rei foi crescendo, cada vez maior e mais bonita.
Por fim, certo dia, um pardal cansado entrou-lhe pela janela e pousou na agulha. A costureira compreendeu imediatamente que este era o último mensageiro. Deu o último ponto na manta e desceu a montanha em busca do rei. Após uma longa busca, encontrou-o finalmente. As suas vestes reais estavam agora em farrapos e os dedos dos pés espreitavam-lhe das botas. Os olhos brilhavam de alegria e o riso era maravilhoso e sonoro. A costureira retirou do saco a manta e desdobrou-a. Era de tal forma bela, que borboletas e colibris esvoaçavam à sua volta. Ergueu-se nas pontas dos pés e pô-la à volta do rei.
– O que é isto? – exclamou ele.
– Prometi-lhe há muito tempo – disse ela – que quando fosses pobre, te daria uma manta.
O riso radiante do rei fez cair maçãs e levou as flores a voltarem-se para ele.
– Mas eu não sou pobre – disse. – Posso parecer pobre mas, na verdade, o meu coração está cheio a mais não poder - cheio com as recordações de toda a alegria que dei e recebi. Agora sou o homem mais rico.
– Mesmo assim, fiz esta manta só para ti – disse a costureira.
– Obrigado – respondeu o rei. – Mas só fico com ela se aceitares uma prenda minha. Há um último tesouro que ainda não dei. Guardei-o todos estes anos só para ti.
O rei retirou o próprio trono do carro velho e frágil.
– É mesmo muito confortável – disse o rei. – Ideal para quem passa longos dias a coser.
A partir desse dia, o rei voltou muitas vezes à casa da costureira de colchas, que ficava bem lá em cima, perto das nuvens. Durante o dia, a costureira fazia lindas colchas que não vendia e, à noite, o rei levava-as para a cidade. Procurava, então, os pobres e infelizes, pois nunca se sentia tão feliz como quando dava alguma coisa a alguém.

Os Presentes do Rei - Parte I


Era uma vez, uma costureira de colchas que vivia numa casa velhinha, nas montanhas de bruma azulada. Até o mais idoso dos tetravôs não se lembrava de um tempo em que ela não estivesse lá em cima a coser, dia após dia.

Aqui e ali, e onde quer que o sol aquecesse a terra, dizia-se que ela fazia as colchas mais belas que um dia se tenha visto. Os azuis pareciam vir do mais profundo do oceano; os brancos, das neves mais boreais; os verdes e os púrpuras, das abundantes flores silvestres; os vermelhos, os cor-de-rosa e os cor-de-laranja, do mais maravilhoso dos pores-do-sol. Algumas pessoas diziam que os seus dedos eram mágicos, outras murmuravam que as suas agulhas e tecidos eram dádivas do povo das fadas. Diziam ainda, que as colchas tinham caído de anjos que por ali passavam.

Muita gente subia a montanha, com os bolsos a abarrotar de ouro, na esperança de comprar uma daquelas maravilhosas colchas. No entanto, a costureira não as vendia:
– Dou as minhas colchas aos que são pobres ou não têm casa – dizia a todos os que lhe batiam à porta. – Não são para os ricos.

Nas noites mais frias e escuras, a costureira descia até a cidade, que ficava no sopé da montanha, e percorria as ruas calcetadas até encontrar alguém a dormir ao relento. Então, tirava do saco uma manta novinha, enrolava-a nos ombros dos que tremiam de frio, aconchegava-os bem, e afastava-se depois nas pontas dos pés. No dia seguinte, depois de beber uma chávena fumegante de chá de amoras, começava uma nova manta.

Por esta altura, vivia também um rei, senhor de muito poder e ambição, que, mais do que tudo, gostava de receber presentes. As milhares e milhares de lindíssimas coisas que recebia pelo Natal e pelo seu aniversário nunca lhe bastavam. Proclamou, então, uma lei que dizia que o rei passaria a festejar o seu dia de aniversário duas vezes por ano. Quando isto também deixou de o satisfazer, deu ordens aos seus soldados para procurarem pelo reino as poucas pessoas que ainda não lhe tinham dado presente algum. No decurso dos anos, o rei foi ficando com quase todas as coisas mais bonitas do mundo. Os seus inúmeros bens estavam empilhados por todo o castelo. Em gavetas ou prateleiras, em caixas e arcas, em armários e sacos.

Coisas que brilhavam, cintilavam e tremeluziam.
Coisas extravagantes e práticas.
Coisas misteriosas e mágicas.
Eram tantas, que o rei tinha uma lista de tudo o que possuía.

Mas, apesar de ser dono de todos estes tesouros maravilhosos, o rei não sorria. Não era nada feliz:
– Deve haver, em algum lugar, algo de bonito que me faça sorrir novamente – ouvia-se o rei dizer muitas vezes. – E hei-de tê-lo.

Um dia, um soldado entrou precipitadamente no castelo com a notícia de uma mágica costureira de colchas que vivia nas montanhas. O rei bateu com o pé no chão:
– E por que razão essa pessoa nunca me deu nenhuma das suas colchas de presente? – perguntou ele.
– Ela só as faz para os pobres, Vossa Majestade – respondeu o soldado. – E não as vende por dinheiro algum.
– Isso é o que vamos ver! – bradou o rei. – Tragam-me um cavalo e mil soldados.
E assim, partiu à procura da costureira de colchas.

Quando chegaram à casa dela, esta limitou-se a rir:
– As minhas colchas são para os pobres e necessitados e vê-se facilmente que não és nem uma coisa nem outra.
– Eu quero uma dessas colchas – exigiu o rei. – Talvez seja o que finalmente me fará feliz.
A mulher pensou por um momento.
– Oferece tudo o que tens – disse – e então far-te-ei uma manta. Por cada coisa que deres, acrescento um quadrado à manta. Quando tiveres dado todas as tuas coisas, a tua manta estará terminada.
– Dar todos os meus maravilhosos tesouros? – gritou o rei. – Eu não dou, eu recebo!
E, dito isto, deu ordem aos soldados para se apoderarem da linda manta de estrelas da costureira. Mas, quando se precipitaram sobre ela, a mulher lançou a manta pela janela e uma forte rajada de vento a levou. O rei ficou muito zangado e levou a costureira montanha abaixo, atravessando a cidade e subindo outra montanha. Lá em cima, seus ferreiros reais fizeram uma grossa pulseira de ferro e, então, a costureira foi acorrentada em uma gruta onde um urso dormia. O rei pediu-lhe novamente uma manta, e uma vez mais ela recusou.
– Muito bem, então – respondeu o rei. – Vou te deixar aqui. Quando o urso acordar, tenho certeza de que vai fazer de ti um ótimo pequeno almoço.

Quando, algum tempo mais tarde, o urso abriu os olhos e viu a costureira na gruta, equilibrou-se nas fortes pernas traseiras e soltou um rugido que sacudiu os ossos da mulher. A costureira ergueu os olhos para o urso e abanou tristemente a cabeça.
– Não admira que sejas tão resmungão – disse. – Para além de rochas, não tens nada onde possas, à noite, descansar a cabeça. Arranja-me um braçado de agulhas de pinheiro e, com o meu xale, far-te-ei uma almofada grande e fofa. E foi isso que fez. Nunca ninguém fora antes tão amável para com o urso, que partiu a pulseira de ferro da mulher e pediu que lhe fizesse companhia durante a noite.

Continua...

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Essa e as outras estórias foram todas coletadas de diversas fontes, a última foi encontrada enquanto eu navegava pela web :)

Quem tiver mais alguma pergunta, levante a mão... :P


Mahura - Aquela que trabalha

(Mito Africano)

Numa tribo distante, em tempos remotos, lá na África, um grupo de crianças perguntou ao velho e sábio sacerdote o porque de o céu ser tão belo e estar tão longe da terra. O sacerdote em sua sabedoria contou-lhes uma história que é mais ou menos assim:

“Quando Olorum criou o universo, o céu e a terra viviam juntos e em perfeita harmonia. As nuvens brincavam no chão junto às pedras. O vento divertia-se pregando peças nas folhas das palmeiras que dançavam ao som da brisa suave. As gotas de chuva misturavam-se às águas das cachoeiras e quase não se percebia a diferença entre os elementos do céu e os da terra. Essa harmonia perfeita durou muito tempo.

Um dia a terra resolveu que havia chegado a hora de ter um filho, pois sendo a terra, era a geradora da vida. E a terra teve uma filha a qual deu o nome de MAHURA (que significa aquela que trabalha). Mahura cresceu depressa e como seu nome dizia era muito trabalhadeira.
Durante o dia, Mahura cuidava dos ciclos da natureza e, à noite, ao invés de descansar sentava-se ao chão perto de um enorme pilão onde passava a triturar raízes, sementes e cascas. O pilão era mágico e quanto mais era usado, mais crescia. Mahura usava uma enorme mão-de-pilão para triturar as raízes e cada vez mais utilizava força para bater.
Com isso começou a machucar o céu que a princípio gemia baixinho mas, depois não suportando as dores causadas pela mão-de-pilão de Mahura, passou a reclamar. Mahura apenas dizia:

- Céu, sobe só um pouquinho.

Com isso o céu foi se distanciando cada vez mais chegando ao ponto de as nuvens não alcançarem mais o chão para brincar nem as gotas de chuva conseguiam mais molhar o solo que foi enfraquecendo e empobrecendo. Só então a pequena Mahura se deu conta do que havia feito e decidiu pedir desculpas ao céu para que ele voltasse.
Procurando um presente a menina retirou do leito de um rio, que teimava em correr, uma pepita dourada à qual deu o nome de sol. Do fundo de uma caverna escura retirou uma pedra branca e reluzente à qual deu o nome de lua. Atirou os presentes bem para o alto, um de cada lado do céu como pedido de desculpas. O céu aceitou os presentes, mas decidiu ficar lá no alto, pois era mais seguro.

Assim contaram, assim lhes contei: se dúvida tiverem do causo aqui narrado, olhem à noite para o céu. As estrelas que virão brilhando nada mais são do que as cicatrizes deixadas pelo pilão de Mahura.


Anansi e o Baú de Histórias

(Conto Africano)

Há muito tempo atrás, quando a terra era nova, não haviam histórias para se contar, pois todas pertenciam a Nyame, o Deus do Céu, que guardava todas elas em um baú de madeira.
Anansi, o Deus Aranha, que era muito curioso e esperto, decidiu que queria as histórias para si, podendo assim conta-las aos homens. Num dia bonito ele teceu uma imensa teia de prata, que ia do chão até o céu, e por ela subiu. Chegando no céu, procurou Nyame e lhe disse o que queria.
Nyame, ao ver aquela aranha velha pedindo tal coisa, chacoalhou todo o seu corpão numa grande risada e lhe disse em desafio:

- O preço de minhas histórias, Anansi, é muito caro. Só lhes dou se você me troxer Osebo, o leopardo de dentes terríveis; Mmboro os marimbondos que picam como fogo e Moatia a fada que nenhum homem viu.
Para sua surpresa Anansi respondeu:
- Pagarei seu preço com prazer, ainda lhe trago Ianysiá, minha velha mãe, sexta filha de minha avó.
O Deus do Céu, entre gargalhadas, disse:
- Ora Anansi, como pode um velho fraco como você, tão pequeno, tão pequeno, pagar o meu preço?

Mas Anansi nada respondeu, apenas desceu por sua teia de prata que ia do Céu até o chão para pegar as coisas que Deus exigia. Ele correu por toda a selva até que encontrou Osebo, leopardo de dentes terríveis.
- Aha, Anansi! Você chegou na hora certa para ser o meu almoço.
- O que tiver de ser será - disse Anansi - Mas primeiro vamos brincar do jogo de amarrar?
O leopardo que adorava jogos, logo se interessou:
- Como se joga este jogo?
- Com cipós, eu amarro você pelo pé com o cipó, depois desamarro, aí, é a sua vez de me amarrar. Ganha quem amarrar e desamarrar mais depressa. - disse Anansi.
- Muito bem, rosnou o leopardo que planejava devorar o Homem Aranha assim que o amarrasse.
Anansi, então, amarrou Osebo pelo pé, pelo pé, pelo pé e pelo pé, e quando ele estava bem preso, pendurou-o amarrado a uma árvore dizendo:
- Agora Osebo, você está pronto para encontrar Nyame o Deus do Céu.

Depois de muito pensar sobre como pegaria Mmboro, ele teve uma idéia; Cortou uma folha de bananeira, encheu uma cabaça com água e atravessou o mato alto até a casa de Mmboro. Lá chegando, colocou a folha de bananeira sobre sua cabeça, derramou um pouco de água sobre si, e o resto dentro da casa de Mmboro.
- Está chovendo, chovendo, chovendo, vocês não gostariam de entrar na minha cabaça para que a chuva não estrague suas asas?
- Muito obrigado, Muito obrigado! Zumbiram os marimbondos entrando rapidinho para dentro da cabaça, que Anansi tampou mais rápido ainda.
O Homem Aranha, então, pendurou a cabaça na árvore junto a Osebo dizendo:
- Agora Mmboro, você está pronto para encontrar Nyame, o Deus do Céu.

Lá se foi ele para casa pensando em como ia pegar a fada. Chegando lá teve uma outra idéia muito boa; esculpiu uma boneca de madeira e cobriu-a de cola da cabeça aos pés, depois colocou-a aos pés de um flamboyant onde as fadas costumam dançar. À sua frente, colocou uma tigela de inhame assado, amarrou a ponta de um cipó na cabeça da boneca, e foi se esconder atrás de um arbusto próximo, segurando a outra ponta do cipó e esperou. Minutos depois chegou Moatia, a fada que nenhum homem viu. Ela veio dançando, dançando e dançando, como só as fadas africanas sabem dançar, até aos pés do flamboyant. Lá, ela avistou a boneca e a tigela de inhame.
- Boneca de borracha. Estou com tanta fome, poderia dar-me um pouco de seu inhame?
Anansi puxou a sua ponta do cipó e a boneca disse sim com a cabeça. A fada, então, comeu tudo, depois agradeceu:
- Muito obrigada boneca.
Mas a boneca nada respondeu. A fada achando falta de educação ameaçou:
- Boneca, se você não me responde, eu te bato.
E como a boneca continuava parada, deu-lhe um tapa ficando com sua mão presa na sua bochecha cheia de cola. Mais irritada ainda, a fada ameaçou de novo:
- Se você não me responde, eu vou lhe dar outro tapa.
E como a boneca continuava parada, deu-lhe um tapa ficando agora, com as duas mãos presas. Mais irritada ainda, a fada tentou livrar-se com os pés, mas eles também ficaram presos. Anansi saiu de trás do arbusto satisfeito com sua esperteza e carregou a fada até a árvore onde estavam Osebo e Mmboro dizendo:
- Agora Mmoatia, você está pronta para encontrar Nyame o Deus do Céu.

Depois disso tudo só faltava uma coisa. Foi andando até a casa de Ianysiá, sua velha mãe, sexta filha de sua avó e disse:
- Mãe venha comigo vou leva-la a Nyame em troca de suas histórias.

Anansi então teceu uma imensa teia de prata em volta do leopardo, dos marimbondos e da fada, e uma outra que ia do chão até o Céu e por ela subiu carregando seus tesouros e sua mãezinha até os pés do trono de Nyame.
- Ave Nyame! - disse ele -Aqui está o preço que você pede por suas histórias: Osebo, o leopardo de dentes terríveis, Mmboro, os marimbondos que picam como fogo e Moatia a fada que nenhum homem viu. Ainda lhe trouxe Ianysiá minha velha mãe, sexta filha de minha avó.
Nyame ficou maravilhado, e chamou todos de sua corte dizendo:
- O pequeno homem aranha trouxe o preço que peço por minhas histórias, de hoje em diante, e para sempre, elas pertencem a Anansi e serão chamadas de histórias de Anansi! Cantem em seu louvor!

Anansi, depois da festa, desceu maravilhado por sua teia de prata levando consigo o baú das histórias até o povo de sua aldeia, e quando ele abriu o baú, as histórias se espalharam pelos quatro cantos do mundo vindo chegar até aqui.

Colorin, Colorado!
O conto está acabado.
Quem quiser ouvir outra vez, feche os olhos e conte até três!

As Cataratas do Iguaçu.


Há muitos anos atrás, quando o Rio Iguaçu corria livre, sem corredeiras e nem cataratas, viviam as suas margens a tribo dos Caingangues. A terra, que não tinha fronteiras, como hoje a conhecemos, acolhia a tribo e o rio, que tanto amavam e respeitavam, lhes oferecia o sustento.

Os Caingangues serviam com temor ao deus Mboi – gigantesca serpente que habitava as profundezas o rio Iguaçu. O deus Mboi, para abençoá-los, exigia que lhe entregassem as indiazinhas mais bonitas da aldeia. Numa cerimônia muito triste, as índias ornamentadas com flores, como noivas, despediam-se de suas famílias e, depois, eram levadas de canoa até o meio do rio; ali, saltavam para as águas escuras e passavam o resto de suas vidas servindo a Mboi.

Os anos passavam e nada mudava. Certa vez, uma velha índia pariu uma filha às margens do Iguaçu. Naipi cresceu para tornar-se a mais bela jovem que já fora vista pelos olhos dos Caingangues. Seus olhos possuíam as nuances das Grandes Águas quando iluminadas pela luz do sol ou da lua. Sua formosura era tanta que, quando ela se mirava no rio, as águas paravam para admirá-la.

Um dia, quando ela se banhava no rio, Mboi a viu e seu coração estremeceu: aquela era a mais linda de todas as mulheres! Imediatamente, ordenou que a entregassem a ele.

Que pena! Todos na aldeia ficaram angustiados, mas não havia outro jeito; seria necessário sacrificar a jovem. Naipi estava prometida, em seu coração, para um jovem guerreiro, Tarobá. O sofrimento por saber da iminente separação os deixou em profunda agonia porque Naipi não ousava pedir que a tribo desobedecesse ao deus, por medo de que ele os castigasse a todos. Naipi e Tarobá decidiram, então, atrair para si mesmos a ira de Mboi e resolveram fugir, esperando que o amor que sentiam um pelo outro fosse maior que o poder de Mboi.

Era tempo das cheias e a única rota de fuga possível era justamente pelo domínio do deus-serpente: o rio Iguaçu. O monstro percebeu a fuga e enfureceu-se muito, perseguindo os dois jovens apaixonados. Apesar de ser grande e poderoso, de repente, Mboi viu que Tarobá e Naipi conseguiriam escapar em direção ao rio Paraná. Assim, num esforço supremo, ele ergueu seu imenso corpo, produzindo um som ensurdecedor pelo deslocamento das águas; em seguida, deixou-se cair com estrondo, criando uma enorme fenda no rio Iguaçu que, devido ao impacto, teve sua extensão toda fendida, em abismais catadupas.

Surgiram, assim, as esplêndidas Cataratas do Iguaçu, cuja beleza pungente só pode ser comparada à formosura da face de Naipi e cuja força só se mede pelo amor dos dois jovens.
A canoa que os levava foi tragada pelas águas e desapareceu.

Como castigo, Naipi foi transformada em uma das grandes rochas centrais das Cataratas, perpetuamente fustigada pelas águas revoltas; e Tarobá foi convertido em uma palmeira situada à beira de um abismo, inclinada sobre a garganta do rio. Um podia ver o outro, mas jamais poderiam se tocar novamente.

Dizem que Mboi está lá até hoje, vigiando os dois apaixonados, escondido debaixo dessa palmeira, onde se encontra a entrada de uma gruta sob a Garganta do Diabo.

Fui ao moinho
moí a farinha
quem quiser que conte a sua
pois eu já contei a minha..
"Eumismo"

"Egoísmo
é o hábito ou a atitude de uma pessoa colocar seus interesses, opiniões, desejos, necessidades em primeiro lugar, em detrimento (ou não) do ambiente e das demais pessoas com que se relaciona."

(Wikipédia)"




Havia uma garota cega, que se odiava pelo fato de não conseguir ver! Como um animal selvagem ela afastava a todos de si, menos seu namorado.

Ele era muio gentil com ela, e descrevia, com grande prazer, a ela todas as belezas do nosso mundo. A auxiliava em tudo, tudo mesmo, e estava sempre por perto.

Um dia enquanto estavam passeando ela suspirou e disse:

- Se pudesse ver o mundo, a primeira coisa que eu faria, seria me casar com você…

Como num milagre, em um dia de muita sorte, alguém doou um par de olhos a ela. Tão grande era sua felicidade!!!

Assim que foi possivel, saiu a procura de seu namorado. Estava louca para conhece-lo. Avistando ele ao longe, sentado de costas num banco da praça, saiu correndo entusiasmada para ve-lo. Quando ela se aproximou, ele lhe perguntou:

- Agora que você pode ver você se casará comigo???

A garota estava chocada. Só agora ela percebeu que seu namorado era cego!

Ela disse:

- Eu sinto muito, mas não posso me casar com você, porque você é cego! Eu nunca imaginei isso... nossa vida seria complicada, difícil… pra mim e para você.

O namorado nada fez, apenas virou as costas e foi andando, cabisbaixo.

Então se virou para trás e disse:

- Por favor, apenas cuide bem de MEUS OLHOS!


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O egoísmo é a raiz de todo o mal.

Baba yaga e Vassalisa - II Parte


De repente...


Ela ouviu um barulho familiar se aproximando. Eram passos de cavalo logo atrás dela. Quando se virou para olhar, eis que bem perto de Vassalisa, já aparecia um cavaleiro branco, montado num magnífico cavalo branco. Trazendo o raiar do dia a cada passo que dava, ele ia iluminando cada gota de orvalho, cada folhinha de cada árvore. Ia despertando cada passarinho, que logo começava a cantar. Os morcegos e corujas voltavam para suas casas, sabendo que já era hora de descançar. O cavaleiro passou por ela, bem diante daqueles olhinhos que brilhavam, e depois foi sumindo no meio da floresta. Maravilhada com a visão só conseguiu continuar seu caminho momentos depois do que havia presenciado. Continuou andando e ouvindo as indicações da bonequinha para chegar até a casa da Baba yaga.

Passaram-se horas e a fome já começava a incomodar sua barriga, a luz estava ficando mais e mais forte a cada hora que passava e, quando a luz estava em seu auge, tirou um pedacinho de pão que carregava e dividiu com sua bonequinha. No meio da refeição ela ouviu um cavalo se aproximando, ficou logo de pé par ver o cavaleiro branco, mas qual não foi sua surpresa quando em vez disso ela viu cavalgando rápido e lindamente, um caveleiro vermelho, montado num cavalo vermelho trazendo o entardecer.

Vassalisa nem piscava seus olhos diante de tamanho espetáculo. A luz, que ia cobrindo tudo, era de um tom avermelhado tão lindo. E, assim como o primeiro, ele foi espalhando aquela luz por todos os lugares. A brisa do entardecer tocou o rosto da menina, os animais pararam por um instante sentindo-a, e depois seguiram seus ritmos vendo a luz do sol ficando cada vez mais fraca. O calor do meio dia ia ficando mais brando, menos ardido para floresta. A menina se sentindo mais disposta então, continuou a caminhar.

Enfim, já exausta, avistou um cavaleiro vestido de negro, com seu rosto tão branco quanto a lua. montando em um lindo cavalo negro ele trazia as estrelas em sua capa que cobria tudo de uma escuridão profunda. Assim as criaturas noturnas da floresta foram despertando. A Coruja com seu canto passou voando sobre sua cabeça, os grilos e cigarras acompanharam a melodia. A sinfônia da noite ia se formando a medida que o cavaleiro se distanciava e se tornou completa quando entrou numa cabana esquisita- Havia uma cerca feita de caveiras e a casa se firmava sobre enormes pés de galinha, amarelos e escamosos, que andavam sozinhos. As cavilhas das portas e janelas eram feitas de dedos, mãos e pés humanos, e a tranca era um focinho com dentes pontiagudos- Então noite reinou na Floresta.

Vassalisa achou que não poderia ficar com mais medo, foi quando viu a própria Baba Yaga descendo do céu, provando o contrário.
Antes que Vassalisa pudesse dar um passo sequer, a mulher desceu do céu aos gritos:

- O que você quer?

Vassalisa estava tão aterrorizada que se sentiu desmaiar. Tudo em volta era sinistro e Baba Yaga tinha um ar ameaçador. Mas resolveu encher-se de um pouquinho de coragem. Já que estava ali, ia tentar a sorte e pedir ajuda àquela assustadora senhora. Assim, aproximou-se da velha e disse:

- Olá, avozinha! As minhas irmãs mandaram-me vir ter contigo, para te pedir um pouquinho de fogo.

A velha retrucou:

- E por eu te daria o fogo menina?

Vassalisa pensou por alguns segundos...

- Por que estou pedindo vovózinha.

A velha fez uma cara de surpresa diante da resposta simples, mas sincera e disse:

- Eu sei quem tu e as tuas irmãs são. Só te darei o Fogo se fizeres certas tarefas para mim. Se não as fizeres, mato-te. Ficaste impressionada com a minha paliçada, não foi?


A bruxa deu jantar a Vassalisa, indicando-lhe também uma cama para ela dormir.
Como partiria cedo no dia seguinte, disse-lhe que, no dia seguinte, queria que ela varresse o chão da casa, preparasse o jantar e tirasse grãos negros e ervilhas selvagens de uma masseira de trigo, que teria de ser lavado. Vassalisa, antes de ir para a cama, deu comida à sua pequena boneca e confessou-lhe nunca conseguiria acabar as tarefas a tempo. A boneca tranquilizou-a, dizendo-lhe para não se preocupar com nada.

No dia seguinte, Vassalisa cozinhou e varreu a casa, enquanto a boneca tratou do trigo. Quando Baba Yaga chegou a casa, ao cair da noite, vasculhou toda a casa e inspeccionou o trigo. Porém, não lhe disse nada.

Antes do jantar, três pares de mãos sem corpo carregaram um saco pesado de trigo e puseram-no aos pés da velha. Esta disse que Vassalisa deveria tirar todas as sementes de papoila e terra que nele encontrasse.
Mais uma vez Vassalisa desabafou com a sua amiguinha, que lhe disse para não se preocupar. Quando a velha saiu, no dia seguinte, a boneca limpou o trigo rapidamente, dando tempo a Vasilissa para preparar um delicioso jantar para Yaga. Ela só chegou quando a noite já era cerrada, com um ar carracundo que se suavizou ao ver a rapariga amedrontada com jantar à sua espera. Os três pares de mãos surgiram do nada e levaram a papoila para a prensa.

Isso intrigava muito Vassalisa.

"Como ela consegue fazer isso tudo?" Pensava.
Até que sua curiosidade foi maior e ela disse:

- Posso perguntar-lhe uma coisa vovó?
- Pergunte, mas lembre-se, nem toda pergunta é boa. Conhecimento demais envelhece.
- Quem são os cavaleiros de branco, vermelho e preto?
- AH! São Meu dia Radiante, Meu sol da tarde e Minha noite fria e misteriosa.
- Hum... entendi....

Mas Baba Yaga também era muito curiosa e queria saber como Vassalisa havia conseguido fazer todas aquelas tarefas em tempo. E essa foi a resposta que ouviu da bela mocinha:

_Foi a benção da minha falecida mãezinha.

_ Benção?! - gritou a velha - Benção?! Não precisamos de nenhuma benção por aqui. Fora! Vamos! Vá embora! Saía logo daqui!

Dizia rispidamente enquanto empurrava Vassalisa para fora, colocando em suas mãos um enorme osso com uma caveira no topo.

- Este é seu fogo. Suma logo daqui.


Vassalisa vendo que a caveira tinha fogo saindo pelos olhos, ouvidos, nariz e boca, agradeceu-lhe muito e partiu naquela mesma noite. Quando já estava quase chegando em casa, a jovem sentiu um verdadeiro pavor daquele objeto. Sua vontade ela abandoná-lo lá mesmo, mas a caveira insistiu para que a levasse até à família, pois tudo ficaria bem. Chegando em casa deparou-se com as meias-irmãs e a madrasta surpreendidas com a sua chegada. Ao que parece, tinham-na dado como morta.
Vassalisa, querendo ser bondosa para elas, deixou-lhes a caveira luminosa, para que pudessem dormir com luz.
A caveira passou a noite observando a madrasta e sua filhas, queimando as maldades delas por dentro.
Na manhã seguinte, quando Vassalisa acordou encontrou a madrasta e suas irmãs reduzidas a cinzas.

Baba yaga e Vassalisa - I Parte


Ando meio ausente da vida de meus amigos por causa do trabalho, mas saibam, meu amados, que não esqueço de vcs jamais.
Ká, minha florzinha, adoro seus comentários aqui nas Teias... aprecio deveras a tua opinião, que é sempre bem-vinda.
Desculpas sinceramente dadas... vamos ao conto :)

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Baba yaga e Vassalisa - I Parte

Havia uma bela menina chamada Vassalisa que vivia com seus pais num lar muito pobre, porém feliz.
A vida ia tranquila e simples, quando no oitavo inverno da menina, a tristeza e a morte cobriram a casa da jovem com seus escuros véus, levando a mãe da bela menina.

A pobre mãezinha, ainda moribunda, chamou-a em seu leito e, com amor, entregou à triste menina uma pequenina boneca de madeira, juntamente com a seguinte orientação:

- Estas são minhas últimas palavras, minha filha querida. Siga-as com atenção. Se você precisar de ajuda, pergunte à boneca e ela lhe dirá o que fazer. Guarde-a sempre consigo. Nunca fale sobre ela a ninguém e alimente-a sempre que ela tiver fome.

Vassalisa cresceu ao lado de seu querido pai, tendo sempre por perto a sua querida boneca, que guardou como um rico tesouro e a alimentava sempre.

Preocupado com Vassalisa que ficara sem mãe tão cedo, e sempre a vendo, tão sozinha, conversar com uma boneca de madeira, decidiu casar-se novamente, afim de dar uma nova mãe a sua filha amada.

A nova esposa tinha duas filhas da idade de Vassalisa. Era uma bela mulher, porém mesquinha, cheia de inveja e ciúme. De imediato não gostara da menina, pois perto dela suas duas filhas mais pareciam borrões feios na parede.

Na ausência do pai, a mulher e suas invejosas filhas tratavam Vassalisa como serva, impungindo-lhe duras tarefas e desprezando-a por sua simplicidade. A doce menina, com inocência e esperança que algum dia fossem gostar dela, sempre obedecia e cumpria todas as tarefas.

Certa vez, a madrasta quis dar um fim em Vassalisa e apagou o fogo que havia em casa, obrigando a pobre moça a buscar uma fagulha com a Baba Yaga, a bruxa que vivia na floresta.
A madrasta sabia que se Vassalisa fosse até a bruxa, esta a devoraria facilmente e seu plano estaria consumado.

Vassalisa, com toda inocência e doçura do mundo, entrou floresta adentro, levando consigo sua pequenina boneca.
Na medida em que andava, a floresta tornava-se cada vez mais escura e ela só conseguia ouvir o estalar dos gravetos pisados.
Amedrontada, a jovem segurou firmemente a boneca que estava no bolso do avental. A bonequinha, vendo o desespero de Vassalisa, disse para que ficasse tranquila, que tudo sairia bem. Sentindo-se mais segura, seguiu em frente. A cada bifurcação, a boneca dava as orientações para chegar até a casa de Baba Yaga.

Vasalisa, depois de tanto caminhar, fez uma parada para alimentar a bonequinha com pedacinhos de pão. Quando de repente...

Tchammmm... tcham tchammmm... só no próximo post... :) rsrsrs

Baba yaga



Uma figura do folclore do leste europeu. Importante figura no imaginário desse povo, ela está presente em muitos contos tradicionais, no caminho de Vassilissa, a bela, ou do destemido Príncipe Ivan.

Quase sempre se tem a visão de que Baba-Yaga é uma temível bruxa, mas nem sempre foi retratada dessa forma.
Antes da Era Cristã ela era retratada, também, como grande conselheira ou a guardiã de muitos segredos.

Sua aparencia é um tanto "assustadora" para quem não está acostumado. Ela é muito velha e tem nariz de gancho. É muito magra, a ponto de seus ossos aparecerem debaixo de sua pele, e tem os olhos chamuscados, como carvão em brasa.
Vive em uma cabana no meio da floresta. Uma cabana um tanto quanto curiosa, que descança sobre grandes, amarelos e escamosos pés-de-galinha, que andam sozinhos ao seu comando. As cavilhas das portas e janelas são feitas de dedos, mãos e pés humanos e a tranca é uma boca com dentes pontiagudos. A cerca que fica ao redor da cabana é feita de caveiras e ossos humanos.

Baba Yaga voa, para onde quer, dentro de um almofariz* de prata, muito veloz. E o rastro de cinzas que deixa pelo céu, rapidamente a danada vai apagando com sua vassoura.
Algumas pessoas dizem que se alimenta de ossos humanos moídos em seu pilão, mas há quem diga que ela também come criancinhas.

Possuidora de muita sabedoria, é senhora da Vida e da Morte, e também é dona do Dia, da Tarde e da Noite, representados por três cavaleiros:

O Primeiro é um Cavaleiro Branco, que cavalga um Cavalo Branco, e se chama Dia;
O Segundo é um Cavaleiro Vermelho, que cavalga um Cavalo Vermelho, e se chama Tarde;
O Terceiro é um Cavaleiro Negro, que cavalga um Cavalo Negro, e se chama Noite... Claro!

Baba yaga é assustadora e temida, pois quem a procura é obrigado a entrar na escuridão, a deixar o mundo da lógica e do conforto.

"Ajuda os puros de coração e devora os impuros".



*vaso de madeira, metal, pedra, vidro...onde se pisa, esmigalha qualquer coisa com o pilão
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Bem, no próximo post escreverei um conto sobre ela...
Espero que tenham realmente apreciado...

A Mulata de Córdoba

A Mulata de Córdoba - Parte final

Na noite antes de sua excecução Mulata gentilmente pediu ao carcereiro, que passava por sua cela, um pedaço de carvão. O homem ficou confuso, mas como era o pedido de uma pessoa que logo estaria morta, ele fez sua vontade.

De manhãzinha, no dia em que ela iria ser executada, o carcereiro foi visitar sua cela novamente e se viu espatando com o que vira. A moça havia feito um desenho de um grande navio na parede de sua prisão. Surpreso e ao mesmo tempo curioso ele disse:

- Mulher, porque gastas seus ultimos momento com tamanha besteira. Ajoelha-se e arrependa-se de teus pecados antes que seja tarde.

Mulata apenas sorriu e lhe perguntou docemente:

- Bom dia querido carcereiro, me farias a gentileza de dizer o que falta em meu navio?

Ao que o homem responde contrariado:

- Mulher, por favor, se te arrempenderes agora não irás morrer. O que falta ao seu navio certamente é o mastro.

- Se um mastro lhe falta, um mastro ele terá!


O carcereiro foi embora, levando em seu coração uma grande confusão. Não conseguia entender os designios de Mulata.

Ao meio-dia, o carcereiro voltou à cela e viu admirado o grande navio, mas agora com o mastro que antes lhe faltara.

- Querido carcereiro, o que falta agora ao meu navio?

Perguntou a enigmática e linda mulher.

Porém, mais uma vez ele a disse, quase em desespero:

- Mulher que se vê em desgraça, salve tua alma, implore o perdão daqueles que te julgam. Porque me perguntas algo tão obvio? Está claro que ao navio faltam as velas.

- Se as velas lhe faltam meu querido, velas ele terá!

Mais uma vez o carcereiro foi embora, completamente intrigado com aquela mulher, que na certa já estava tomada pela loucura, pois em suas últimas horas de vida gastava seu tempo desenhando.

A Tarde veio, e assim a hora de Mulata ser excecutada tbm. Com toda a praça preparada para sua morte, o carcereiro foi busca-la em sua cela, carregando em seu semblante muita tristesa.
Ela o aguardava, bela e sorridente. Uma pedra preciosa e brilhante ao meio de tanta feiura e sujeira. Mais uma vez, com toda a gentileza, ela perguntou:

- Querido, o que falta agora ao meu navio?

O homem, com uma agonia enorme respondeu quase aos gritos:

- Mulher não percebes que irás morrer e sua alma enviada ao inferno, reza para que tua alma seja recebida por Deus Nosso Senhor e arrepende-te dos teus pecados. A este navio, a única coisa que falta é navegar, está perfeito!

A Mulata, mais bela e doce do que nunca respondeu:

- Pois se vc, meu querido, tanto o deseja, o meu navio navegará!

Sob o olhar em choque do carcereiro, um vento frio e veloz invadiu a cela, e mais veloz que o vento Mulata saltou para o navio, que começou a se mover lentamente e depois a toda vela, levando com ele a poderosa e bela feiticeira.

O homem ficou imovel, gelado e tremulo. Seus olhos se arregalaram e sua boca se arregaçara. Mais tarde o encontraram em estado deplorável, encolhido num canto da cela rezando sem parar.

A Bela feiticeira nunca mais foi vista, a não ser no sonhos daquele pobre homem, aterrorizado pelo poder e enorme beleza, vista naquela tarde que nunca mais esqueceria.